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Comunicação e planejamento de mandatos

Pior que tá não fica. Foi com esse slogan que o comediante Francisco Everardo Oliveira Silva, o Tiririca, se elegeu em 2010 Deputado Federal por São Paulo com mais de um milhão e trezentos mil votos, a segunda maior votação absoluta para o cargo na história do País. Objeto de estudo e discussão constante, seus votos seriam resultado da desilusão do eleitorado em relação a classe política – aliás, um fenômeno mundial – denominado “voto de protesto”. O mesmo que antes, desde o Macaco Tião na época da cédula de papel, elegera Enéas – o mais votado da história, Clodovil e outras personalidades exóticas por diversos cantos do país.

Os candidatos midiáticos, pessoas que possuem constância de aparições nos meios de comunicação, não são novidade, nem muito menos exclusividade brasileira. Para ficarmos em apenas um exemplo, podemos citar Ronald Reagan, ator de sucesso que foi governador da Califórnia em 1966 e presidente dos Estados Unidos em 1980.

A notoriedade é, de fato, o primeiro degrau em uma campanha eleitoral vitoriosa. Afinal de contas, não se vota em quem não se conhece. Também por isso é que atores, músicos, esportistas e outras “celebridades” cada vez mais têm se aventurado em eleições, especialmente para cargos legislativos. Contudo, a vitória nesses casos é a exceção e não a regra.

A eleição de Tiririca foi uma dessas exceções. Em uma campanha profissional, com o bordão que dizia “Você sabe o que faz um Deputado? Nem eu. Me coloca lá que eu te conto”, fruto de uma competente estratégia traçada para angariar simpatia e votos. Mas, mais do que isso, fez parte uma estratégia partidária maior, que previa o aumento do coeficiente partidário, a fim de eleger outros deputados com a “sobra” dos votos do candidato-celebridade. Para isso, o Partido investiu e estruturou a campanha do comediante, sendo exitosa, ao contrário de diversos outros que buscam em figurinos semelhantes o caminho da vitória.

Após ter cumprido seu papel eleitoral, o mais novo Deputado foi alvo da curiosidade inicial da mídia que cobriu seu primeiro – e único – pronunciamento em plenário, além do constante questionamento sobre afinal, o que fazia um deputado? Tiririca respondeu que, engessado pelo sistema político, os parlamentares “trabalhavam muito e produziam pouco”. Resposta tão original e sincera quanto a figura do Deputado.

Relegado a seu pífio mandato, sem bandeira a defender, sem discurso a apoiar, Tiririca perdeu a oportunidade de, a sua maneira, fazer do limão uma limonada. Comparado ao bom desempenho dos também neófitos e midiáticos deputados Romário e Jean Wyllys, é possível constatar a diferença abismal que um trabalho de marketing e comunicação bem fundamentado pode gerar a seus detentores.

Não é de se estranhar, portanto, o fato de que Tiririca tenha afirmado que não disputará mais eleições. Após uma campanha profissional, em seu mandato amador, o Deputado “descobriu” que “não dá pra fazer muita coisa”. Causa e conseqüência do desperdício de oportunidade do amadorismo que afeta muitos outros Tiririca’s Brasil à fora, alguns por ingenuidade, outros por aptidão.

Por Leandro Grôppo

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