Nas manifestações de 2013, preocupada com a reeleição, Dilma cometeu um equívoco tático ao assumir a responsabilidade de dar respostas às “vozes das ruas”. Naquele momento a presidente tornou-se a imagem da crise, que não mais conseguiu se livrar, mesmo durante a campanha eleitoral, onde tudo de ruim, desde então, virou sua a culpa.
As novas manifestações vêem em conjunto com a queda da atividade econômica e perda da confiança, de empresários e trabalhadores, além da série de escândalos de corrupção que atingem a gestão e o partido da presidente. Nesta conjuntura Dilma virou o foco do movimento, que agora tem pauta específica – e quase única – pedindo sua saída.
O atual cenário é distinto ao de 2013. Dilma e o PT conquistaram a maioria eleitoral, mas não conseguiram transformá-la em capital político. Originada na burocracia, a presidente tem extrema dificuldade para ouvir e dialogar com a classe política, uma vez não ter o traquejo que a experiência legislativa poderia ter lhe acrescentado. Da falta de articulação surgiram as mágoas acumuladas pelos congressistas, que fizeram com que Renan Calheiros e Eduardo Cunha tenham hoje um poder quase parlamentarista. Aliados que se transformaram em uma oposição de fazer inveja ao PSDB.
As falhas passam também pela falta da figura do(a) líder e pela perda do aproveitamento de oportunidades. Algo que deve ser feito com palavras, mas também com ações. O simbolismo é fundamental na comunicação política. O corte de cargos e ministérios, por exemplo, geraria fato significativo perante a opinião pública. Contudo, por outro erro tático, Dilma conseguiu perder o discurso para a dupla Renan-Cunha, que lançou a proposta de forma “amigável”. Justo o PMDB. Agora, mesmo que o faça, o saldo não será mais como antes para a presidente.
Além disso, para aplicar medidas impopulares ou de difícil compreensão, como o ajuste fiscal proposto, Dilma deveria ter tido a função anterior de explicá-la. Um presidente dispõe de todo o espaço que precisa. Uma coletiva diária lhe daria importantes minutos no noticiário. Mais eficiente que os longos argumentos retóricos dos pronunciamentos em cadeia de rádio e TV. Como disse em entrevista o ex-presidente FHC, com conhecimento de causa: “ao não comunicar, Dilma faz uma cirurgia sem anestesia”.
A falta de proximidade com o povo é outro problema que a presidente enfrenta, passando a percepção de arrogância. Cabe lembrar que foi o contato quase íntimo de Lula com o povão que fez com que, mesmo em meio ao escândalo do mensalão, auxiliado pela economia, se reelegesse em 2006.
Por fim, um grave equívoco do governo é confundir comunicação com propaganda. São ferramentas diferentes, comumente incompreendidas pelos políticos. Não adianta falar que a inflação está sob controle quando o eleitor vê seu poder de compra reduzir. Assim como não adianta uma Prefeitura dizer que está fazendo muito, se os buracos nas ruas aumentam ou as filas nos postos de saúde crescem.
Não será a propaganda que fará o eleitor modificar sua avaliação de uma administração. Pelo contrário, em meio a um cenário negativo, passam a ser vistas como cinismo. A boa gestão de crises ensina que, em período de turbulências, propagandas devem ser evitadas. Uma maneira equivocada de defender teses que até podem ser corretas, mas que acabam por contribuir para a ampliação dos “panelaços”.
Por Leandro Grôppo