Folha de São Paulo – UOL Eleições – 22/09/2016
Estúdios cinematográficos, viagens, imagens feitas em helicópteros, efeitos especiais e profissionais contratados a preço de ouro eram até há pouco tempo parte das maiores campanhas eleitorais no país. No pleito deste ano, porém, a Operação Lava Jato, a crise econômica e a nova legislação eleitoral, que restringe doações e proíbe a contribuição de empresas, mudaram este cenário.
Saíram de cena grandes estrelas do marketing político brasileiro, desinteressadas em fazer o serviço por pouco dinheiro e sem recursos para produções grandiosas. Nomes conhecidos, como Duda Mendonça, João Santana, Nelson Biondi e Luiz Gonzalez não estão trabalhando, pelo menos oficialmente, nas eleições deste ano.
Com isso, abriu-se caminho para a ascensão de um “segundo escalão” de marqueteiros menos famosos –e, principalmente, mais baratos– que ganharam espaço na chefia de campanhas grandes em algumas das principais capitais brasileiras.
Em São Paulo, onde está o maior colégio eleitoral do país, com 8,8 milhões de votantes segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), são profissionais com este perfil que comandam as principais equipes.
De acordo com o que o UOL apurou com profissionais de quatro campanhas em São Paulo, uma no Rio e outros que não estão trabalhando neste ano, os ganhos destes profissionais, antes na casa dos milhões, em 2016 ficam entre R$ 100 mil e R$ 200 mil por mês de trabalho. De acordo com diversos profissionais ouvidos pela reportagem, as produções estão no geral pelo menos 40% mais baratas, com cortes que afetam também o salário de outros profissionais.
Pelas beiradas
O mineiro Leandro Grôppo é um bom exemplo do marqueteiro que ocupou espaços vazios e cresceu neste ano. Toca com sua equipe campanhas a prefeituras Brasil afora, a maioria em Minas Gerais. Grôppo conseguiu fazer um preço melhor e pegar muitos trabalhos neste ano de crise geral do mercado de marketing político. Apesar do crescimento do próprio negócio na atual conjuntura, o publicitário só tem críticas às novas regras eleitorais que, entre outras novidades, proíbe a doação de empresas e limita a doação de pessoas físicas a no máximo 10% da renda declarada no ano anterior.
Para ele, a situação favorece os candidatos ricos –um postulante a cargo público pode investir o próprio patrimônio–, que podem gastar com mais liberdade. “Com o cerceamento da comunicação, você acaba impedindo aquela liderança nova, que os eleitores querem, de aparecer para o público. O brasileiro não tem tradição de doar dinheiro do próprio bolso para políticos, que nem nos Estados Unidos. Quase ninguém vai doar”, avalia.
Para o professor de marketing político Emmanuel Publio Dias, da ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing), a legislação adotada neste ano será um teste. “Acho que vai limitar os excessos que vinham acontecendo em pleitos anteriores, mas ninguém sabe como vai terminar e se vai dar certo ou não”, diz.
“Houve nos últimos anos uma expansão inimaginável nos custos das produções e agora não vai dar para fazer tudo o que o pessoal está acostumado. Com menos dinheiro, as campanhas têm de ser mais talentosas, criativas e eficientes. Existia um desperdício de recursos muito grande.”
Fonte: Folha de São Paulo – UOL