Artigos

Oposição pra quê?

A disputa política no âmbito federal entre a atual “oposição”, representada principalmente pelo PSDB, e a “situação”, representada pelo PT, gera lições que podem ser analisadas e depreendidas para as demais “oposições” Brasil a fora, estaduais e municipais.

As três derrotas seguidas do PSDB em eleições presidenciais deixaram a oposição sem discurso – adotado e incorporado habilmente pelo PT -, e sem bandeiras, como a modernização do país e as privatizações, cujos resultados positivos foram renegados pelo próprio partido, durante suas campanhas eleitorais.

Neste período, a “oposição brasileira” falhou em sua missão precípua: ser oposicionista. Basta dizer que simplesmente não existiu uma oposição de verdade durante todo o governo Lula, mesmo nos momentos mais críticos, e continua a não existir no governo Dilma. As forças que deveriam, e até precisavam ser oposição, pelo bem de sua própria existência, simplesmente se auto-anulam para o exercício de uma das tarefas mais legítimas em regimes democráticos. Basta ver o que sobrou do antigo PFL, agora DEM.

Por outro lado, de maneira eficiente, o PT fez a sua parte. Renovou-se, organizou-se nacionalmente e tem um projeto de poder. No governo há oito anos, e agora desfrutando mais quatro, tem um forte apelo de atração e de cooptação. Ocupou todos os espaços políticos, reduzindo a oposição aos pronunciamentos parlamentares, diminuindo sua relevância e influência,que somada à ausência de um discurso programático, sente as dificuldades de transmitir uma mensagem diferenciada à população.

O papel da oposição, então, passou em larga medida a ser representado pela mídia, que, com seu nível de repercussão na sociedade, fiscaliza as ações do executivo federal e denuncia as mazelas da administração pública. Pautando, assim, aqueles que deveriam cumprir essa função. Contudo, a oposição brasileira vem concentrando o foco exclusivamente em trabalhar as acusações de irregularidades, apenas surfando nas ondas da mídia por meio de casos isolados de corrupção. Fazer isso é mesmo obrigação. Entretanto, fazer somente isso traz riscos. Criar CPI’s não é discurso, é barulho. E afinal, qual a idéia central da oposição para o país?

O momento político sugere a arrumação de um discurso de oposição, que ainda não o têm. Espera-se, portanto, que a oposição – em especial, o PSDB, o partido mais forte dentro desse grupo – inicie um já tardio debate, para criar condições de modo a se apresentar nas próximas eleições como uma real alternativa programática ao PT. A conseqüência – caso isso não ocorra – será a consolidação do PT, de maneira competente, como partido hegemônico nacional.

Dessa forma, à oposição, resta a necessidade de se reciclar, mudando seu discurso, sua comunicação política, estratégia e modo de ação, que passam necessariamente pela compreensão dos anseios da população e maior aproximação com a sociedade. De modo a que possa ocupar o papel que lhe cabe no cenário político, uma vez que o aperfeiçoamento da democracia apresenta-se essencialmente pelo fortalecimento das oposições, sejam elas municipais, estaduais, e nacional.

Por Leandro Grôppo

COMPARTILHE
WhatsApp
Telegram
Twitter
Facebook
LinkedIn
Email
Privacy Overview

This website uses cookies so that we can provide you with the best user experience possible. Cookie information is stored in your browser and performs functions such as recognising you when you return to our website and helping our team to understand which sections of the website you find most interesting and useful.