A tão comentada visita do presidente norte-americano Barack Obama ao Brasil foi um verdadeiro espetáculo de marketing. Discursos impecáveis, palavras, gestos e expressões milimetricamente pensados para dar ênfase à expressão semântica. Tudo visto e revisto por um batalhão de assessores, seguranças e equipes de apoio que garantiram o oferecimento daquilo que o brasileiro gostaria de ver.
Não devemos, contudo, tirar o crédito de Obama. O homem é um verdadeiro showman. Sabe muito bem articular as palavras, se posicionar e se expressar de forma clara e objetiva. Seu tom de voz passa firmeza e sobriedade que, em conjunto com o sorriso largo e franco, acabam por cativar o público esbanjando carisma e simpatia, conquistando a platéia com a imagem de herói e líder-charme.
É claro que não podia deixar de faltar algumas artimanhas comumente utilizadas para esta “conquista de corações”, como receber a camisa de times de futebol e dizer algumas palavras em português. Tática muito usada por famosos cantores internacionais quando em viagens pelo país.
Como bem disse o professor e articulista Gaudêncio Torquato, a visita de Obama ao Brasil foi, nada mais nada menos, que um grande show de Relações Públicas. Um verdadeiro abraço ao povo brasileiro. Uma ação estrategicamente calculada para iniciar a reversão da rejeição até então crescente em todo o mundo contra os Estados Unidos. A visita, portanto, sob esse prisma foi bem sucedida.
Sob o âmbito das coisas concretas, entretanto, chegou perto de zero. O Brasil tem reivindicações imediatas: assento no Conselho de Segurança da ONU e dispensa de visto para brasileiros em viagem aos EUA. Sobre isso, nada. Apenas rápida menção de intenções futuras. Do lado norte-americano, os interesses comerciais eram claros, especialmente a respeito das oportunidades do pré-sal e da venda dos aviões militares da Boeing ao Brasil, com cifras na casa dos 10 bilhões de dólares.
Para Dilma, restou um grande trunfo de formação de imagem. Desde a posse ela vem agindo para converter traços de sua personalidade num ativo político que a diferencie do ex-presidente Lula. E a política externa é parte dessa estratégia. Nesta questão, a passagem relâmpago de Obama pelo país é celebrada como um divisor de águas. Opera-se uma guinada que distancia Dilma da visão “terceiro-mundista” de Lula. Sem renegar África e Oriente Médio, a nova gestão prioriza América do Sul, EUA e China como principais parceiros, em um pragmatismo comercial em detrimento do ideológico. Neste contexto, a imagem de que agora é a Casa Branca que se interessa pelo Brasil, significa importante reconhecimento do novo status que o país – e sua presidente – adquiriu no mundo.
Em termos práticos, a visita de Obama não produziu nada além de um comunicado de intenções conjuntas. No campo do marketing, porém, injetou na atmosfera uma aura de prestígio que coroa as estratégias de ambos os lados.
Por Leandro Grôppo