Artigos

O perigo do discurso antidemocrático

O Brasil presencia número significativo de manifestações políticas desde 2013. As marchas, contra e a favor do impeachment e, mais recentemente, a paralisação dos caminhoneiros, são exemplos. A demonstração de insatisfação popular é legítima e fortalece a democracia. Porém, é crescente a parcela de manifestantes que reclamam por uma intervenção militar como forma de resolução dos problemas existentes.

A descrença do brasileiro com a política e a distância entre representantes e representados faz com que parte da população desacredite na democracia. Pesquisa do instituto Ipsos, de 2017, mostrou que um terço dos eleitores não acredita que o regime democrático seja o melhor para o Brasil. O mesmo levantamento demonstra que apenas 6% se sentem representados pelos políticos que votaram.

Ou seja, um sistema pouco representativo, distante e envolvido em escândalos, acaba gerando a desconfiança da sociedade sobre a própria democracia. Um ciclo vicioso que se auto-alimenta. E é aí que mora o perigo, pois apenas em democracias há direitos como a liberdade de expressão e livre manifestação, assim como a garantia e o direito do povo de traçar seu próprio destino. Em regimes autoritários, como provado e comprovado pela história, isso é impossível.

Nenhum país desenvolvido, econômica e socialmente, possui governos ditatoriais. O mundo mostra que a democracia eleitoral é a regra para construir sociedades prósperas. As forças militares têm sua relevância para cumprir funções específicas. Mas as soluções de problemas sociais devem sempre se dar através do diálogo e pelo debate democrático.

Mesmo que o Brasil tenha baixa educação política, até porque a democracia no país é extremamente recente, não se pode assumir o discurso não democrático como refúgio para questões democráticas. A possibilidade real e regular de troca de partidos, pessoas e ideologias é o que mantém viva a sociedade. Portanto, a solução para problemas políticos passa necessariamente pelo aperfeiçoamento do sistema, não pela sua destruição.

Para isso, eleitores mais engajados e participativos, partidos ativos e propositivos e políticos mais próximos da população, são condições fundamentais. Nesse sentido, a comunicação é essencial para aproximar a sociedade de seus representantes, assim como as pesquisas para entender e melhor atender as demandas sociais. Como descreveu George Gallup, “uma democracia efetiva depende tanto de um eleitorado bem informado como de governantes informados a respeito daquilo que o eleitorado deseja”.

A ideia de intervenção militar como resposta de problemas políticos deve servir como alerta para o aperfeiçoamento da prática política. Em que a transparência e a comunicação devam ser os principais meios para recuperar a confiança na democracia. Afinal, vale lembrar que sem ela, não há direitos, não há debate. Muito menos manifestações para solução de problemas, sejam eles velhos ou novos.

Por Emílio de Sá e Leandro Grôppo

COMPARTILHE
WhatsApp
Telegram
Twitter
Facebook
LinkedIn
Email