Na mídia

Novas regras facilitam manutenção de mandato

Jornal Tribuna de Minas – 10/07/2016

Em meio a uma constante discussão acerca da crise de representatividade entre sociedade e classe política, os brasileiros voltam às urnas em outubro para escolher os responsáveis pelas conduções dos trabalhos executivos e legislativos no âmbito municipal. Uma vez mais, os eleitores têm nas mãos uma chance para reoxigenar a discussão pública das cidades, dando espaço a novas vozes. Oportunidade, contudo, que nem sempre é desfrutada, principalmente quando se trata das cadeiras legislativas. Em Juiz de Fora, o número de vereadores eleitos pela primeira vez (que nunca ocuparam o cargo) caiu de nove, em 2008, (47% dos parlamentares) para sete, em 2012 (37%). Especialistas ouvidos pela Tribuna apontam que as novas regras eleitorais, validadas pela minirreforma aprovada pelo Congresso e por resoluções assinadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), tendem a dificultar a renovação dos quadros das câmaras municipais. Os desafios dos postulantes vão desde a captação de recursos até o pouco tempo para afiançarem seus nomes junto ao eleitorado.

Entre os elementos que devem dificultar a eleição de novos nomes está a redução do tempo de campanha, que, a partir deste ano, passa de 90 para 45 dias, entre 16 de agosto e 2 de outubro. “A redução do tempo dificulta ao eleitorado o acesso às propostas e projetos dos candidatos”, considera o consultor de marketing político Leandro Grôppo, da consultoria Strattegy. Para o profissional, tal característica tende a deixar a corrida por cadeiras no Legislativo “mais superficial”. “A ponto de o eleitor não saber ao certo quais são as opções e em quem está votando. Favorece quem já tem mandato, que acaba fazendo ‘campanha’ ao longo dos meses que antecedem s eleições – de forma legal, uma das atribuições do legislador é dar publicidade a suas ações . As novas regras dificultam a renovação das casas legislativas.”

Cavaletes e bonecos

Para os especialistas, outra regra nova – a que proíbe a utilização de cavaletes e de bonecos com propagandas de partidos e candidatos nas ruas e calçadas – também dificulta o acesso ao eleitor à imagem daqueles que buscam ser eleitos pela primeira vez. “Quando se fala em cavaletes e bonecos, logo se pensa naquele candidato que espalha sua publicidade por toda a cidade. Aquele que, de forma exagerada, coloca mais de 300 peças em uma rua. Porém, há o outro lado. Tal publicidade é importante para o candidato de bairro, por exemplo, que perde uma ferramenta para apresentar sua candidatura”, afirma Grôppo.

O consultor considera que a limitação do número de peças utilizadas por cada postulante – “no máximo 20 cavaletes para cada candidato, por exemplo” – tornaria o pleito mais equilibrado. “A proibição não afeta quem possui recursos, pois a força financeira sempre encontra uma forma de contornar as vedações.”

‘Ricos’ terão maior visibilidade

O novo modelo para a captação de recursos para as campanhas – que veda doações do setor privado – também é visto pelo consultor Leandro Grôppo como complicador para o sucesso daqueles que buscam uma cadeira legislativa pela primeira vez. “Ao contrário do que se esperava, as novas regras acabam por favorecer o poder econômico. Um candidato muito rico, que pode colocar recursos do próprio bolso, tende a ganhar maior visibilidade, da mesma forma que aqueles que já detêm mandatos.”

Grôppo, que já trabalhou com diversas campanhas em cidades do interior de Minas, acredita que haverá uma espécie de efeito cascata. “As campanhas de vereador se balizam muito pela disputa do Executivo. Uma campanha de prefeito mais pobre, significa maiores dificuldades financeiras para candidatos ao legislativo.” Com relação à captação de recursos, outra novidade está no limite de gastos. A minirreforma define que o TSE estipule um teto máximo.

Apesar de reconhecer a força da internet nos processos eleitorais, o consultor de marketing político Leandro Grôppo considera que a web não é uma ambiente próprio para a definição de voto, mas, sim, um espaço de militância. “A internet facilita e, com tantas proibições, acaba sendo o que resta. Por outro lado, o brasileiro não acessa a internet par a ver política. Quem faz isso é a militância. Assim, uma vez mais, o mais importante nesse pleito será a sola de sapato, a saliva e a estratégia”.

Inserções

À parte a redução do tempo de campanha, o fim do bloco com os candidatos a vereador no horário eleitoral gratuito de rádio e TV – a partir dessas eleições os postulantes à Câmara terão direito a 28 minutos diários de inserções ao longo da grades de programação – é visto por Grôppo como um ponto positivo das mudanças válidas para o atual pleito. “Aquele ‘blocão’ acabava sendo um show de horrores, com discursos muito semelhantes. Quando um ou outro se destacava era por questões alheias à discussão política, prejudicando o debate”, avalia Grôppo.

Fonte: Jornal Tribuna de Minas (Juiz de Fora-MG) 

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