Na mídia

Governo e Marketing

Jornal Estado de Minas – 20/05/2012

De uns tempos para cá, difundiu-se uma nova teoria sobre a popularidade de Dilma. À boca pequena, os “grandes entendidos”, os que “sabem tudo de Brasília”, não têm dúvida: é coisa de João Santana!  Para quem não sabe, é bom logo explicar. Ele é o profissional de marketing que assessora a presidente desde o começo do governo. Foi o responsável pela campanha que a levou à vitória em 2010.

Sua proeminência data de quando assumiu a campanha de Lula na reeleição. Embora o ex-presidente já tivesse voltado a ser favorito desde o início de 2006 – quando o eleitorado digeriu e superou o famoso “mensalão” –, aquela não foi uma eleição tranquila. Até os últimos dias do primeiro turno – e o começo do segundo –, a oposição política e social ainda acreditava que tinha condições de derrotá-lo.

Moveu tudo que estava ao alcance, contando com a participação entusiasmada dos principais veículos de comunicação nacionais – que não titubearam no endosso à candidatura de Geraldo Alckmin (mais, até, que o próprio esperava). Mas Lula resistiu e terminou vencendo. E João Santana soube fazer uma televisão que o ajudou (em muito). Como foi, quatro anos depois, um ator fundamental na campanha de Dilma.

Santana enveredou pelos caminhos do marketing político e eleitoral por meio de Duda Mendonça, de quem cedo se tornou um dos mais importantes colaboradores. Com o ostracismo de Duda – o coordenador da campanha de Lula em 2002 –, provocado por suas intempestivas declarações à CPI que investigava as denúncias contra o mensalão, ele assumiu o protagonismo.

Desde a posse de Dilma, Santana tem assessorado a presidente  em questões de comunicação. É quem se encarrega dos pronunciamentos na televisão. Dirige as gravações, opina a respeito do que ela diz, sugere textos mais facilmente compreensíveis pela população.

O que faz é algo de que nenhum governo democrático moderno prescinde. Não há chefe de governo contemporâneo que não tenha “seu marqueteiro” – ou uma empresa que faz as vezes dele. A comunicação de massa é relevante demais para ser deixada sob a responsabilidade de pessoas sem qualificação específica – ou para guiar-se exclusivamente pela “intuição” do governante.

Mas não é por ter essa função que João Santana se tornou, nas últimas semanas, personagem da crônica política e assunto dos comentaristas. Com frequência cada vez maior, João Santana passou a ser discutido não pelo que é, mas por algo que lhe atribuem: o papel de mágico. Entre os muitos que não entendem os bons números da presidente, estão os que acham que a resposta é que são “coisa do João Santana”. O que equivale a dizer que o único motivo de ela ser bem avaliada é o marketing do governo.

Mais ainda: que Dilma é aprovada porque alguém – o marqueteiro – “manipulando” as “técnicas do marketing” “vende gato por lebre”.  Ela, a “responsável pelo ministério”, se tornou a “faxineira ética” por “obra do marketing” – ou seja, de João Santana. Ela, a fonte dos problemas do governo, se apresenta como solução, “por obra do marketing”.

No fundo, é mais uma ficção criada pela oposição – particularmente a mídia oposicionista – para não reconhecer um fato básico de nossa vida política: que a larga maioria da sociedade aprova, com racionalidade e fundamentadamente, o governo que Dilma realiza. Em vez de tentar mostrar a “falsidade” dessa boa avaliação – atribuindo-a à “ignorância da população”, à “desinformação das pessoas”, ao “clientelismo político”, à “compra das consciências pelo Bolsa-Família” e, agora, ao “marketing do governo” –, melhor fariam as oposições se começassem sua análise admitindo que a sociedade aprova o governo por razões concretas. Que está satisfeita objetivamente, e não por estar sendo enganada. Só assim poderá redescobrir como falar com o país. E não ficar falando sozinha.

Fonte: http://www.advivo.com.br/blog/luisnassif/governo-e-marketing-por-marcos-coimbra

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