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A eleição no Equador e o Brasil de 2026

Os equatorianos foram às urnas escolher seu destino no segundo turno presidencial. A eleição entre o atual presidente Daniel Noboa e a oposicionista Luisa González, tiveram muitos aspectos que se assemelham à conjuntura da disputa brasileira de 2026.

O cenário de estagnação econômica por um lado e a escalada de violência, por outro, configuraram os preditores principais da decisão do eleitor. A ocupação de territórios pelo crime organizado, com aumento de roubos e homicídios, assustou o equatoriano que até poucos anos vivia em um país pacato e sem grandes problemas de segurança. Similar ao que já acontecia nos grandes centros do Brasil e agora avança para as médias e pequenas cidades. Se antes o domínio de facções era visto pelos brasileiros somente nas periferias e pela TV, nos últimos anos, a significativa ampliação já é tema recorrente em grupos de pesquisa qualitativa em todos os Estados do país.

A economia equatoriana dolarizada, dependente da extração do petróleo e da produção agrícola primária, ainda não se recuperou dos impactos da pandemia, reduzindo a expectativa de melhoria da vida. No Brasil, o cenário econômico ainda cambaleia e, sem direcionamento de projeto de país, configura um quadro de tentativa individual para a ampliação do poder de compra que, atrelado ao crescimento do segmento evangélico de classe média, se traduz em um perfil empreendedor que enxerga nos governos um empecilho para a prosperidade.

No Equador, Luisa González trabalhou a mensagem de “amor e esperança”. Um discurso cansado da esquerda, já gasto pelo seu partidário e ex-presidente Rafael Correa, acusado de corrupção e que a maioria não queria repetir. Enquanto Daniel Noboa, jovem, empresário e de família tradicional, tinha como símbolo sua própria presença, em especial no avanço do combate ao narcotráfico. Cartazes gigantes de papelão com sua foto de punhos cerrados, às vezes de terno e gravata, em outros com roupas de academia, viraram febre entre seus eleitores e ampliavam a imagem de força e resistência, símbolos da direita.

No Brasil hoje, a volta da direita seria um retorno, enquanto a manutenção da esquerda um progresso prometido, mas não concretizado. Por aqui, a esquerda se mantém com narrativas repetidas que funcionaram nos primeiros mandatos do presidente Lula. E a direita se divide entre quem aposta nos atributos da autoridade masculina, ao estilo Trump, e quem se baseia em polêmicas ao invés de argumentos. No entanto, ao significarem mais do mesmo, dão espaço para candidatos e discursos disruptivos. E como fizeram João Dória em 2016, Romeu Zema em 18 e Pablo Marçal em 24, serem a surpresa dos que não possuam o diagnóstico correto.

Nos dois países, muitas pessoas perderam a fé na política e seus representantes. Foi comum ouvir dos eleitores equatorianos que ambos os candidatos a presidente não tinham as qualidades que buscavam e que, por isso, votariam no menos pior. Neste contexto, Noboa se reelegeu presidente do Equador com 56%. No Brasil, a força do atributo “menos pior” decidiu a eleição de 2022 por menos de 1% e, se não houver candidato que complete a lacuna ainda disponível, poderá também decidir em 2026.

Por Leandro Grôppo

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