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Economia e Eleições

Na maioria das vezes, eleições se resumem à escolha entre continuidade e mudança. A simplicidade surpreende, mas é a partir desse ponto que uma análise de cenário se inicia. Entretanto, não para por aí. Diversos outros fatores fazem parte da conjuntura que rege determinada eleição, como a imagem dos candidatos, a configuração sócio-econômica e a capacidade de comunicação e aglutinação das campanhas. É por isso que governantes com alto índice de aprovação podem não eleger um sucessor, e é também por isso que nenhuma eleição é igual a outra, ainda que os candidatos sejam os mesmos.

 Em eleições presidenciais um fator específico se torna fundamental nesse quadro analítico que compõe a conjuntura eleitoral: a economia. A famosa frase do consultor político James Carville em 1992, durante a primeira campanha de Bill Clinton à presidência dos Estados Unidos, resume bem o fato: “It´s the economy, stupid” (“É a economia, idiota”). A frase era uma das mensagens nas quais a campanha de Clinton focou, sendo a outra: “Change or more of the same” (“Mudança ou mais do mesmo”). A campanha de Clinton usou de maneira vantajosa a recessão norte-americana da época para derrubar o então presidente George H. Bush, o pai.

 No Brasil, desde 1986, é a economia que tem regido as eleições. O Plano Cruzado que congelou preços e aumentou salários, elevou o poder de compra na mesma proporção da popularidade do então presidente Sarney, permitindo por exemplo que o PMDB elegesse 22 dos 23 governadores naquele ano.

Collor venceu em 1989 pelo clamor de um herói que resgatasse o país dos pacotes econômicos fracassados. Em 94, a vitória de Lula era dada como certa, mas o “coelho da cartola” do PSDB veio através do Plano Real, bem sucedido em controlar a inflação, e seu “ministro responsável”, Fernando Henrique Cardoso. Em 1998, a continuidade da estabilização – ainda que somente até o primeiro mês de 99 – permitiu a vitória do “medo” sobre a “esperança”.

Em 2002, após sucessivas crises internacionais, com a volta da inflação, juros altos e queda da renda, a “mudança” tinha nome: Lula, que agora apresentava uma postura diferente, mais próxima do capital. Em 2006, apesar da crise de imagem do PT envolto a escândalos, Lula tinha arrumado a casa e a renda das famílias crescia a todo vapor. Vitória da economia sobre a ética. Ao chegar em 2010, ano em que o Brasil se consagrou como o último a entrar na crise financeira internacional e o primeiro a sair, foi eleita uma quase desconhecida, a “mãe” Dilma Rousseff.

Há mais de um ano das próximas eleições, com a campanha já nas ruas, e mesmo com um fraco PIB de 0,9% em 2012, pesquisas demonstram que Dilma possui índice de aprovação superior até mesmo ao do ex-presidente e intenções de voto que lhe dariam a vitória em 2014. Mas como?

Um número passa despercebido a grande parte do público. Pela análise da demanda, o consumo das famílias aumentou 3,1% em 2012, nono ano seguido de taxas positivas. Resultado do crescimento real da massa salarial dos trabalhadores (6,7%) e do saldo de operações de crédito para pessoas físicas (14%). Somente nos últimos dois anos, o consumo das famílias garantiu, sozinho, 89% da expansão da economia.

Dessa forma, enquanto a moldura social for de consumo elevado, bolso cheio e geladeira farta, o coração agradece confirmando na cabeça da maioria que: It´s the economy, again (É a economia, de novo).

Por Leandro Grôppo

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