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A verdade é o que vale

A política sempre viveu do espetáculo. Desde a oratória retórica grega, passando pelos panfletos e cartazes dos movimentos do século passado, o uso do cinema, rádio, televisão, até a chegada da internet. Como um meio de comunicação transversal e imediato, as redes sociais passaram a ter relevância maior quanto mais os celulares e a conexão de dados se tornam mais acessíveis.

A rápida evolução tecnológica impactou a política cada vez mais. No entanto, a promessa inicial de aproximar as pessoas, na realidade, teve outro desfecho. As plataformas premiam a polarização. Não é à toa que as únicas indústrias que tratam seus clientes com o nome de “usuários” são a das drogas e redes sociais.

Em meio ao caos de informação, quem grita mais alto muitas vezes vence a disputa de atenção. E quem mais engaja, pelo medo ou pela raiva, acaba por definir os debates, independente se está ou não falando a verdade. Nesse contexto, o político que admite um erro, explica uma decisão impopular ou se recusa a simplificar temas complexos, vira alvo. Em contrapartida, a polêmica gera seguidores e compartilhamentos.

Na comunicação digital não basta ter um bom projeto ou visão de longo prazo. O que repercute é transformar o fato em espetáculo digno de nota. Se não for emocionante, não engaja. Se não gerar revolta ou devoção, passa despercebido. Assim, as redes transformam a política em uma eterna eleição, onde o argumento muitas vezes tem menos força que a forma como é contado. E os resultados só valem até a discussão do tema do dia seguinte.

Mas a realidade não se curva a roteiros elaborados e vídeos bem editados. O meio (de comunicação) não substitui o fim (o Tripé da Gestão). Obras inacabadas continuam fazendo falta, independente do discurso. A insegurança não desaparece, por mais que haja edição e textos prontos. E a prática política, feita no dia a dia, segue valendo muito. Pois mesmo que com atraso, o real se impõe ao virtual. Sem entregas, os métodos se exaurem e não tem comunicação que salve.

Topázio de Florianópolis, Manga de Sorocaba, João Campos de Recife e Alysson de Mossoró, exemplos de políticos com comunicação digital de impacto, possuíam algo em comum antes do resultado das urnas em 2024. O mesmo que em 2022 Zema tinha em Minas, Caiado em Goiás e Ratinho no Paraná: gestões bem avaliadas.

Afinal, mesmo em tempos de inteligência artificial, algoritmos patrocinados e discursos radicalizados, a verdade pode não ser fácil de viralizar, mas ainda é o que importa na decisão do eleitor. Pois no fim, quando as telas se apagam e as trends, hashtags e dancinhas perdem força, o que fica é o resultado percebido na vida das pessoas, que vale mais do que qualquer like.

Por Aluísio Eduardo Medeiros e Leandro Grôppo

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