Artigos

A tática Tiririca

Muitos se espantaram com a quantidade de votos obtida pelo humorista Tiririca em sua candidatura a Deputado Federal por São Paulo pelo PR. Foram exatos 1.353.820 votos, nesta que foi sua primeira disputa eleitoral.

Discute-se a razão de uma figura, até então inexpressiva na política, e sem qualquer trabalho anterior, consiga amealhar quantidade tão significativa de votos, a ponto de ser o deputado mais votado do Brasil em números absolutos. Para se ter uma idéia do feito, no estado de São Paulo, que possui o maior eleitorado do país (30 milhões de eleitores), o segundo mais votado para o cargo foi Gabriel Chalita (PSB), ex-secretário de educação do estado, ex-vereador da capital paulista e com forte vinculação à igreja católica, obteve 560.022 votos, número bastante expressivo se considerarmos que do 3º ao 14º lugares tiveram votação na casa dos duzentos mil. Ou seja, Tiririca obteve mais que o dobro de votos em relação ao segundo colocado, sendo que este segundo teve também mais que o dobro do terceiro. Um verdadeiro fenômeno! Será?..

Em verdade, tudo isso não foi surpresa para seu partido e sua coligação. Em todas as eleições para cargos legislativos, especialmente para Câmara dos Deputados, muitos partidos utilizam de figuras conhecidas do eleitorado, vindas de outros setores, principalmente do meio artístico e esportivo, para elevar o número de partidários eleitos. Pois, com maior bancada, tem-se mais recursos do fundo partidário (a divisão é feita de acordo com a votação da legenda), mais prestígio e consequentemente maior poder de barganha política.

Explica-se: ao contrário das eleições para cargos executivos (presidente, governador e prefeito) que são majoritárias, onde aquele que consegue a maioria dos votos é o vencedor, nas eleições para o legislativo a votação é proporcional, ou seja, elege-se pela proporção de votos dada a todos os candidatos da coligação. Dessa forma, se um candidato teve boa votação, mas seus companheiros de chapa não obtiverem bons resultados, fazendo com que a coligação não alcançasse o número mínimo de votos para eleger ao menos um representante, o bem votado estará fora. Por outro lado, em coligações que se utilizam de um “puxador-de-votos” que obtenha votação expressiva, a “sobra” de sua votação serve para eleger outros que não conseguiriam atingir a quantidade mínima somente com sua votação pessoal. Por exemplo, a votação de Tiririca foi capaz de eleger outros cinco candidatos que não conseguiriam se eleger “sozinhos”.

Esta é a estratégia dos partidos ao buscarem “candidatos celebridades”. Os eleitores, em sua maioria desiludidos com os políticos tradicionais e suas práticas, e sem entender para que serve um deputado, acabam por transformar seu voto em uma resposta de protesto a chacota diária dos noticiários. Assim, o desconhecimento da mecânica eleitoral expande, a cada pleito, a leva de oportunistas e do estapafúrdio espetáculo eleitoral. Portanto, casos como Enéas em 2002, Clodovil em 2006, Tiririca em 2010, dentre outros, não são novidade no meio político. Onde, muitas vezes, vota-se no que se vê e elege-se o que não vê.

Por Leandro Grôppo

COMPARTILHE
WhatsApp
Telegram
Twitter
Facebook
LinkedIn
Email
Privacy Overview

This website uses cookies so that we can provide you with the best user experience possible. Cookie information is stored in your browser and performs functions such as recognising you when you return to our website and helping our team to understand which sections of the website you find most interesting and useful.