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A diferença entre pesquisa e análise

Há muito mais conhecimento que pode ser obtido de uma pesquisa além dos seus números e relatos. Partindo da premissa de que informação é poder, porém, possuir bons dados é somente o primeiro passo para saber utilizá-los corretamente. O que remete à questão fundamental sobre pesquisas eleitorais, que é a sua análise.

Conhecer as características dos eleitores, suas emoções coletivas, atitudes, hábitos e percepções, permite que os candidatos tenham maior efetividade no investimento de tempo e recursos. Afinal, nada mais caro do que estar baseado em intuição e palpites. A radiografia do eleitorado converte-se, dessa forma, em questão essencial à medida que pode influir, inclusive, na decisão de concorrer ou não, conforme a viabilidade da candidatura.

Contudo, pesquisa não serve para adivinhar o futuro, mas sim identificar formas de intervenção de maneira a tentar modificá-lo. A partir do entendimento profundo das razões e motivos dos eleitores, é possível compreender o presente, antecipar cenários e abrir caminhos, por menos nítidos que sejam naquele momento. Encontrando argumentos que possam atuar sobre a realidade de maneira a atingir o objetivo estabelecido.

Assim, o verdadeiro poder das pesquisas é transformar informação em ação política. Pois ainda mais importante que reconhecer aqueles que tenham potencial de vencer, é o que fazer para vencer. Com a avaliação clara da situação de partida, do potencial de chegada e, principalmente, o meio de chegar. Executadas da forma certa, as pesquisas erram com a mesma frequência que aviões caem. Interpretadas corretamente, são instrumentos fundamentais e insubstituíveis.

Através da análise técnica, com o necessário distanciamento crítico, podemos definir o posicionamento ideal, desenhar o conceito da candidatura, eleger a rede de temas e mensagens a serem trabalhadas e, em especial, traçar o planejamento de como, quando e por qual direção seguir. A partir daí a campanha ganha capacidade de conquistar a atenção, e, pela repetição criativa, fazer com que o eleitor retenha sua mensagem.

Nesse ponto vale destacar um detalhe que é habitual de confusão: ser um bom pesquisador não implica necessariamente ser analista de opinião, nem tão pouco estrategista de campanhas. Alguns são. Mas a maioria, não. É quase o mesmo que fazer um exame de raio-x e esperar que o operador da máquina decifre as linhas apresentadas e indique a medicação a ser tomada, ao invés do médico especialista que pediu os exames. Pesquisar e analisar são expertises diferentes.

O desafio maior, portanto, é saber o que fazer com os dados, interpretar adequadamente a conjuntura, estabelecendo a narrativa que gere credibilidade na busca do consenso em meio a condicionantes complexos e dinâmicos como os contextos político, social e econômico. Eleição não é “caixinha de surpresas”. No entanto, é bem verdade que ao final, quem tiver a interpretação correta e souber desenvolvê-la a seu favor, se tornará a “surpresa” daqueles que serão os surpreendidos.

Por Leandro Grôppo

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