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O conflito como estratégia

O candidato eleito ao governo, além da maioria dos votos, conquista também um vínculo emocional travestido na esperança de que a vida das pessoas melhore. Passado o período da lua-de-mel do início de mandato, as tensões se tornam habituais. Por motivos diversos, governar no Brasil é fazer gestão de crises todos os dias. No caso de Bolsonaro, se elas não surgem naturalmente, ele faz o trabalho de criar e radicalizá-las. Afinal, este é o seu perfil.

Se na prática política a atitude é ruidosa, em matéria eleitoral não há nada de ingênua. Em 1988, época da recente redemocratização, defender militares era para poucos. Bolsonaro soube ocupar esse espaço, sendo eleito vereador pelo Rio de Janeiro com 11 mil votos. Ampliando a pauta para a segurança e o “moralismo”, se elegeu deputado federal por sete vezes consecutivas (gráficos no final do texto). Saindo de 67 mil votos em 1990, para 120 mil em 2010. Em 2014, quando quadruplicou sua votação, já utilizava outra lacuna abandonada pelos partidos, o combate ideológico à corrupção, em especial como contraponto ao governo federal petista e seus atores principais. O discurso agressivo, envolto à frustração do eleitorado pelo sistema político, o levou à presidência.

Fomentar conflitos é uma necessidade de líderes populistas, de esquerda ou de direita. As crises oferecem o contexto para narrativas de luta, seja entre o povo e a elite (Lula), o povo e o sistema (Bolsonaro), americanos e imigrantes (Trump), entre tantas outras. Incitando o debate, constrói marcos que reforçam pontos de vistas e interpretações que conservam o poder de ação ou, em último caso, a menor perda possível.

Para os apoiadores de Bolsonaro, ele é a vítima, que não consegue governar porque “o Congresso chantageia, o Supremo não deixa e a mídia persegue”. Razão pela qual mantém o percentual de avaliação positiva relativamente estável, mesmo promovendo e enfrentando choques diários com outros poderes, forças políticas e, especialmente, com a imprensa. Lula sofreu desgaste semelhante desde o escândalo do Mensalão. No entanto, se reelegeu em 2006 e na esteira de diversas outras polêmicas, fez seu sucessor e cultivou intenções de voto que o levariam ao segundo turno da disputa presidencial de 2018.

Por se tratar de sentimentos, os argumentos racionais para combatê-los são insuficientes. Isso porque quanto mais polarizado, mais emocional é o consumo da informação. Extremos de amor e ódio que geram o líder. E na disputa entre razão e emoção, a segunda sempre foi primeira. Dizer que um político é horrível, não faz com que seus eleitores o abandonem. Muito menos tratar de ignorantes a quem lhes vota. Um menosprezo que reforça conexões que são explicitadas, inclusive, em muitas das coisas que ele diz publicamente. Rebatê-las, portanto, é ampliar o seu alcance, reafirmando convicções de quem o segue.

Nesse contexto, não há espaço para análises apressadas nem amadorismo. A má leitura aliada à distorção da visão, induz a erros na interpretação e, conseqüentemente, ao desenho de respostas ineficazes. Como disse certa vez o ex-presidente argentino Juan Perón, “as batalhas políticas se enfrentam com armas pelos impacientes, ou com o tempo e estratégia pelos experimentados”.

Por Leandro Grôppo 

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