Através de meu avô, Santinho Barreto, conheci José Alencar no início dos anos 90. Aliás, cabe o registro de que a primeira eleição disputada e vencida por José Alencar, dentre muitas que estariam por vir, foi na Associação Comercial de Ubá, na década de 50. Apoiado pelo Santinho, tornou-se seu sucessor na presidência da associação. História que ouvi por diversas vezes muitos anos depois, com riqueza de detalhes.
Ainda muito novo, lembro-me de conversar com uma figura alta, de fala forte e face séria. Tive a honra de presenciar encontros que na maioria das vezes tinha a política como tema, onde se discutia desde questões pequenas aos grandes problemas econômicos do Brasil. Presente no lançamento da pedra fundamental do complexo esportivo e educacional do SESI e posteriormente na sua inauguração em Ubá, percebi ser aquela figura, então presidente da FIEMG, uma pessoa realmente à frente de seu tempo.
Durante a campanha ao governo em 1994, mesmo sabendo da previsível derrota, lutou até o fim, com o discurso gerencial, da necessidade da visão empresarial austera na política, tão em voga ultimamente. A terceira colocação, no entanto, não foi motivo de raiva, nem empecilho para que a veia política sobressaísse, fato comum entre aqueles que enfrentam o primeiro – e na maioria das vezes único – revés nas urnas.
Então veio a campanha de 1998, como um turbilhão que espalhou por toda Minas Gerais um jingle marcante em que se cantava que “o quinze do Zé Alencar, era o quinze pra Minas ganhar!”. E ganhou! O Senador mais votado na história de Minas, até então, iria finalmente poder prestar seus conhecimentos empresariais à política brasileira. No Senado defendeu a redução da carga tributária, que chamava de “um cipoal de impostos” e os famosos juros! Sim, a batalha contra os juros era antiga. Nos anos de Senado construiu a fama de bom gestor e grande político. Inteligente e altivo, com o “jeito mineiro de ser” soube esperar o momento certo e articular da melhor forma para atingir objetivos. Fato que levou ao convite para ser o Vice de quatro candidaturas presidenciais distintas. A “noiva” que todos os partidos e candidatos queriam.
Escolhendo e escolhido, foi a representação do capital na chapa vitoriosa que uniu o trabalhador e o patrão. Lula e Alencar, com biografias semelhantes, formaram em 2002 a dupla certa, na hora certa, com o discurso ideal que permitiu a vitória nas urnas após três tentativas consecutivas frustradas da oposição.
Veio então, em 2004, o convite para que eu fizesse parte de sua assessoria. Ao me questionar sobre quando poderia estar em Brasília, respondi de pronto: “ontem”. E assim foi feito. Desde agosto daquele ano tive a honra e a oportunidade de conviver proximamente de um auto-ditada e expert, que debatia com autoridade sobre qualquer assunto, do alto da complexidade da teoria política macroeconômica à escalação da seleção brasileira de 58. Onde cada conversa se tornava uma verdadeira aula, de história a geografia, de português a economia. Aulas de política, de empreendedorismo, de causos, de vida, de otimismo, de esperança e perseverança.
A doença não o abatia, uma semana após cirurgias problemáticas e demoradas, já estava de volta ao trabalho, na labuta diária de oito da manhã às oito da noite, na maioria das vezes até mais. A mesma fibra utilizada para derrotar a pobreza em Itamuri era apresentada ao Brasil para encarar uma doença grave, o câncer.
O trabalho, que iniciou muito cedo, – juntamente com as preces, cartas e orações que recebia numerosas diariamente – lhe segurou na batalha, por vezes inglória, sem, no entanto, reclamar ou fraquejar. Pelo contrário, a cada internação, saía com um bom humor de quem tivera a notícia da vida eterna. E assim, alimentávamos a esperança de que poderia ser verdade.
Contado causos, brincando e cantando, reunia em uma forte corrente positiva os brasileiros que enfrentam lutas diárias pela sobrevivência. Na idade em que muitos já teriam se entregado, servia de exemplo àqueles que passavam por problemas parecidos, ou mesmo àqueles que fazem de pequenos problemas grandes obstáculos.
Sua batalha o fez se tornar íntimo de todos os brasileiros, que nele tinham o exemplo de garra, determinação, força e otimismo, fazendo aumentar ainda mais a admiração dos mais próximos, que, assim como eu, tiveram a honra de conviver com a figura de um iluminado. Mais do que exemplo inspirador, uma verdadeira lição de vida.
Raros sãos os humanos que conseguem o que ele conseguiu. Foi um vitorioso em tudo que fez, galgou com dignidade as dificuldades para chegar ao topo da consagração de um grande homem, ao construir ao lado de Dona Mariza uma grande família, aglutinar amigos, erguer um império como empreendedor e alcançar o poder político. Tudo com humildade, honradez e fidelidade indelével.
Certa vez, Lula, ao discursar em homenagem ao Vice-Presidente, quando este recebia o título de presidente emérito da FIESP, único mineiro a ganhar tal distinção, disse: “Existem muitos empresários, políticos, mas não existe a possibilidade de ter um outro José Alencar.”
Um homem submetido aos desígnios de Deus, líder alçado ao posto não por pretendê-lo, mas por merecimento. Um obstinado, que cumpriu sua missão ao ensinar o que é coragem e persistência na luta pela vida e pelo desenvolvimento do país, desde Ubá para o mundo, que servirão de exemplo para todas as gerações e o farão eterno no coração dos brasileiros. Parte para a eternidade, deixando sua grandiosa lição no livro da História dos Empreendimentos e da Política, com “P” maiúsculo. Obrigado Presidente.
Por Leandro Grôppo