Artigos

O eleitor consumidor

O eleitor brasileiro está amadurecendo a cada nova eleição. Desde a redemocratização e após a Constituição de 1988, já ocorreram no país 16 eleições, somados os níveis federal, estadual e municipal, além de um plebiscito, um referendo e várias eleições extemporâneas em diversas cidades. Assim, o brasileiro nascido na década de 70 já esteve quase vinte vezes à frente da urna, quem nasceu na década de 80, em média, já votou dez vezes, enquanto que os nascidos da década de 90 em diante desconhecem outro regime no país, se não o democrático.

O discurso que “brasileiro não sabe votar” não é verdadeiro. Juntamente com a evolução educacional, o eleitor consolidou o aprendizado da democracia e a cada dia conhece melhor seus direitos, entende que seu voto não pode ser controlado e decide sua opção por escolha livre. Mesmo que, conscientemente ou não, o faça com baixa informação. Esta condição, aliás, é um dos fatores principais que fizeram a última eleição ser uma das com maior número de abstenção e voto nulo.

O desinteresse recorde ocorre pois o eleitor evoluiu, mas os políticos não. O brasileiro não se sente representado porque parte da classe política está desconectada com a realidade do eleitorado. A ponto de transformar o Judiciário no poder mais bem avaliado. Paradoxalmente, quem não foi escolhido por voto direto passa a “representar o povo”. Faz algum tempo que é assim.

Esta, digamos, “má vontade com os políticos”, se dá pelas vantagens e privilégios que tendem a elevar os eleitos à posição de poder na qual equilibram-se a qualquer custo. Contudo, governar ou legislar hoje, é muito mais complicado que no passado. As regras são mais restritivas, a justiça é mais atuante e, com a internet, facilitou a fiscalização e a cobrança de tudo e todos. Gerando uma consciência de consumo social que modifica o cenário político.

O brasileiro conquistou respeito como consumidor, tem e utiliza com freqüência o seu Código de Defesa, porém, ainda busca seus efeitos como eleitor. Sua relação com o poder público é de eterna espera: pelo ônibus que não chega, pelo médico no posto de saúde, por vaga na creche etc. Lhe falta um Código de Defesa do Eleitor para recorrer quando não tem acesso a serviços públicos com a qualidade necessária. O eleitor consumidor quer resoluções para seus conflitos do dia-a-dia. Por isso a decisão eleitoral é sempre naquele que melhor consegue transparecer soluções para os problemas cotidianos nunca resolvidos.

Que o eleitor, tão desiludido com a política, resgate do consumidor que traz dentro de si a lição de que o barato de hoje pode sair mais caro adiante. E que os partidos e políticos compreendam que se não entenderem e atenderem as demandas, serão substituídos em breve. O perfil “gestor”, em moda ultimamente, é um primeiro passo desta transformação. Problema para quem não se dispõem a ler o eleitorado. Oportunidade para quem quer fazer diferente.

Por Leandro Grôppo

COMPARTILHE
WhatsApp
Telegram
Twitter
Facebook
LinkedIn
Email