Artigos

Internet ganha eleição?

Desde a campanha de Obama em 2008, muito se comenta sobre a relevância da internet nas disputas eleitorais. A cada nova eleição, não custa muito para ouvirmos que “essa eleição vai ser conquistada na internet”. Mas será mesmo que ela tem todo esse poder?

Para entender melhor a questão, vamos analisar alguns pontos. Pesquisa do Comitê Gestor da Internet no Brasil apontou que, em 2014, 50% dos domicílios brasileiros tinham acesso à internet. Isto é, só recentemente a web alcançou metade das casas brasileiras. Ou seja, a internet, por mais que esteja crescendo, não é uma ferramenta que alcança a todos. Por isso, ainda não chega perto de ser o canal mais presente nas residências do país. A TV, por exemplo, permanece hegemônica. Segundo o IBGE, 97,2% dos brasileiros possuíam ao menos um televisor em casa em 2013.

Outro fator a destacar é a qualidade da internet no Brasil. A conexão no nosso país é lenta e cara, ainda mais quando comparada a outros países. A internet móvel, via celular, segue a mesma linha. Ou seja, além de ainda não alcançar a maioria, os que têm acesso à rede pagam caro e recebem dados com lentidão.

Além disso, a política só tem movimentação orgânica entre a militância e seguidores. Na maior parte das vezes, o cidadão comum é atingido pelos candidatos às vésperas das eleições e, mesmo assim, com grande rejeição. Muitos pré-candidatos, de forma equivocada, usam a rede como um meio de massa, despejando propaganda de forma aleatória, sem planejamento e sem interagir com o eleitor.

Também devemos levar em conta as “bolhas ideológicas” que são formadas nas redes sociais. O Facebook, por exemplo, possui um algoritmo que dá prioridade às postagens que o usuário tem maior simpatia. Ou seja, muitas vezes o internauta acaba “preso” a pessoas e páginas próximas de sua linha ideológica, sem conhecer outros pontos de vista, consequentemente permanecendo entre aqueles que estão no seu raio social.

Mesmo Obama, não ganhou as eleições nas redes sociais. O que fez foi mobilizar os militantes e simpatizantes na internet, conquistando apoio financeiro e doações para sua campanha. Com isso, comprou tempo de propaganda na TV (meio de maior alcance) para ter sua imagem realmente solidificada, visto que nos EUA não existe “horário eleitoral gratuito”.

Levando essas considerações em conta, somos obrigados a repensar o alardeado “protagonismo” da internet nas eleições brasileiras. Ela é um meio crescente e que deve ser utilizada pelos candidatos, mas é uma ferramenta dentre várias. Não será sozinha que decidirá uma disputa eleitoral. Especialmente porque grande parte dos brasileiros acessam a rede em busca de entretenimento, não de política.

A grande questão da Internet é não a supervalorizar, muito menos subestimar. Assim como os outros meios de comunicação, deve ser usada de maneira estratégica, de acordo com o perfil do candidato e do eleitor a ser alcançado. Porém, nenhuma ferramenta substitui o conteúdo, a mensagem que o candidato pretende passar. Se o conteúdo for realmente relevante, o meio será um facilitador. Caso não seja, não será o meio que substituirá a mensagem. Mais do que o bom uso dos instrumentos, Obama tinha mensagem relevante ao representar a esperança. Apostar na web como “salvação” de uma campanha não é o caminho para a vitória. Eleição se ganha com planejamento e estratégia, não com “likes” ou curtidas.

Por Emílio de Sá

COMPARTILHE
WhatsApp
Telegram
Twitter
Facebook
LinkedIn
Email