Passado o período eleitoral, e todas as emoções contraditórias que trazem consigo, cabe analisarmos seus resultados e tentar compreender o que as urnas nos “dizem”.
No nível federal, depois de uma campanha tensa, marcada mais pela agressividade que pelas propostas, a maioria da população escolheu pela continuidade, reflexo de dinheiro no bolso com certo conforto social, que é o que importa em última instância.
A presidente eleita, Dilma Rousseff, vai encontrar pela frente desafios sérios e problemas antigos. Para cumprir a promessa de manter o crescimento acelerado e a redução da miséria, será obrigada a atacar barreiras que seguraram seus antecessores, incluindo o próprio Lula. Seu grau de autonomia e sucesso dependerá, assim, da equipe que consiga montar e do desempenho da economia nos primeiros momentos do novo governo.
Como primeira mulher a assumir a cadeira presidencial no Brasil, espera-se o aumento da presença feminina em cargos de liderança no poder público, que ainda é tímida no país. Este efeito deve se refletir não somente em cargos indicados de chefia, como também nas urnas em futuras disputas eleitorais.
A lição que fica para oposição é a de que a conjuntura momentânea é um dos fatores mais importantes em uma eleição. Em 2002 Serra era o candidato da continuidade, quando a população queria a mudança. Em 2010 Serra incorporou a mudança, enquanto o desejo da maioria era o da continuidade.
Aliado ao erro estratégico, a terceira derrota consecutiva do bloco oposicionista demonstra o grande distanciamento das bases, por falta de conteúdo programático e renovação interna. O PSDB perdeu o eleitorado de menor renda – sobre o qual os “caciques” tinham antes forte influência –, para o PT, que se fixou nessa faixa de eleitorado nos oito anos de governo Lula. Dessa forma, a oposição, perdida e sem rumo, não consegue ampliar sua base de apoio para além das classes médias conservadoras, sobretudo de São Paulo e do Sul do país. Esse desnorteamento submeteu a oposição, e sua campanha errática, a uma derrota eleitoral e política. Assim, ao PSDB caberá provar ser capaz de representar interesses insatisfeitos que atualmente estão longe do poder. Pensando em 2012 e, especialmente, em 2014.
Por Leandro Grôppo