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Quem representa?

A classe política vive uma crise de representatividade evidenciada nas recentes manifestações e confirmada por pesquisas de opinião. Um momento que exige a revisão de discursos e práticas, sem distinção entre governistas ou opositores.

O sistema político hoje pouco representa para grande parcela da população. Para esses, a via tradicional transformou-se em um conjunto que, apropriando-se da representação, não presta contas e justifica suas ações em função dos interesses que servem à própria classe.

A falta de comunicação clara transformou partidos em siglas sem importância, sem marca e sem distinção. Idênticos perante o eleitorado, tornaram-se meros artifícios para viabilização de candidaturas e, por vezes, balcões de negócio no comércio de propaganda e apoios. Abrigando operadores com redutos individuais, cujo somatório – e não a identificação com programas e propósitos – confere maior ou menor “espaço” nas disputas. Um modelo que não leva em consideração os temas que afetam a vida da população.

O exemplo mais claro da falta de identidade é que, ao contrário do que poderia se imaginar, a queda da aprovação e intenções de voto da presidente petista, em nada beneficiou seu opositor natural, o candidato do maior partido (dito) oposicionista. Apesar de todos os pesares, o PT ainda é um dos poucos que tem bandeira, a da área social, em voga desde 2002 – e aí está o maior motivo das seguidas vitórias ao executivo federal. Já o PSDB, assim como os demais, não tem marca expressiva, e para dificultar, transpira insensibilidade social, justamente o tema de maior demanda – uma das causas das três derrotas em seqüência no plano nacional.

A expressão “não me representa”, tão comum ultimamente, é concreta e significa o novo tempo. A representação como constituída historicamente não convence mais. Partidos e movimentos descolaram-se da vida real das pessoas. Soma-se a isso o fato de que alimentada pela percepção da má gestão dos recursos e a não abertura de espaços para novas lideranças, e temos a origem da crise de representatividade política, que anestesiada pelo poder, blindou-se contra a sociedade.

Restabelecer a confiança na política como mediadora de demandas é o grande desafio, que passa por proporcionar mecanismos e instrumentos de diálogo com a população, entendendo e atendendo seus anseios, princípio básico do marketing. As ruas pediram urgência na qualidade dos serviços públicos e ética das relações do público com o privado, mas quem hoje defende isso claramente?

É preciso abandonar os discursos generalistas, agregar elementos de diferenciação e  despir da linguagem burocrática apresentada. Essa reconstrução de imagem se dá, necessariamente, por ferramentas de comunicação, em que a internet é ponto fundamental. As redes sociais refletem o modelo demandado, sendo horizontais e desierarquizantes. Diferentes do tradicional plenário, onde todos aplaudem do auditório enquanto meia dúzia no palco discursa, comanda e decide.

Ou os partidos caminham para reconquistar a representatividade, ou vão ser superados por novas organizações, institucionalizadas ou não, mas sintonizadas com as demandas sociais. Compreender esses valores, que levam à negação da participação política e as mudanças que estão em curso, é a lição para partidos e políticos, a começar pelos municípios.

 Por Leandro Grôppo

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