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O cabo eleitoral de 2018

Muitas pessoas estranharam os resultados, até certo ponto contraditórios, da última pesquisa Datafolha divulgada no início deste mês. Mesmo com 54% dos eleitores acreditando que Lula deva ser preso pela operação Lava Jato, nas simulações de voto do primeiro turno o ex-presidente segue liderando. E ainda que tenha a maior rejeição entre os nomes pesquisados, Lula também venceria no segundo turno, de Sérgio Moro a João Dória, qualquer um dos possíveis adversários.

O conjunto dos dados, entretanto, leva a outro paradoxo. Como Lula consegue manter o capital eleitoral após seguidas denúncias contra seu governo, seus indicados e sua ações pessoais? E mesmo com 87% dos entrevistados da pesquisa dizendo que é “muito importante” que o candidato a presidente “nunca tenha se envolvido com corrupção”, como a intenção de voto em Lula resiste e alcança até 48% nos cenários? A resposta não está no grau de tolerância dos brasileiros com a corrupção na política.

Em um universo eleitoral onde 47% têm renda familiar mensal de até dois salários mínimos, taxa que cresce para 66% quando se inclui até três salários, a demanda por políticas de aumento do poder de compra têm grande apelo. Entre o eleitorado de menor renda e baixa escolaridade, maior quantitativo das intenções de voto em Lula, o pragmatismo da situação econômica fala ainda mais alto. Um fenômeno que não é exclusividade do atual momento.

Fernando Henrique se elegeu e reelegeu por dar continuidade ao recente processo de redução inflacionária e estabilidade da moeda. Já em 2002, com a grave crise econômica, venceu quem melhor encampava a imagem de mudança e a possibilidade de geração de empregos. A reeleição de Lula em 2006, mesmo em meio ao ‘mensalão’, foi marcada pelo crescimento do poder de compra, fato que permaneceu até 2010, quando a indicada do presidente foi eleita. Dilma se reelegeu em 2014 no início da derrocada econômica e da Lava Jato, que atingiram fortemente a gestão petista.

O caminho do voto presidencial começa pelo bolso; se cheio, passa para a barriga; quando satisfeita, alimenta o coração; se feliz, envia gratidão à cabeça e decide o voto. Ou seja, é a economia, traduzida pelo consumo das famílias, a demanda mais importante, correspondente a 65% do PIB nacional. O consumo está em queda desde 2014. Como reflexo, o presidente Michel Temer tem impopularidade superior à de Dilma antes de sofrer o impeachment. De lá para cá o ambiente piorou no que mais importa para a maioria do eleitorado: sua situação financeira, a expectativa de manter-se empregado ou arrumar emprego, o futuro da renda pessoal, endividamento e a percepção sobre a inflação. Está tudo mais baixo do que estava antes.

Por esse motivo a gestão Temer é considerada ruim ou péssima por 73% dos brasileiros. A saúde voltou a ser o principal problema do país, deixando a corrupção em segundo, empatada com o desemprego. Se o pessimismo aumenta, o candidato mais identificado como a oposição cresce como conseqüência. Por isso, hoje, o maior cabo eleitoral de 2018, às avessas, é quem está sentado na cadeira de presidente do país. E a conclusão também vale no sentido inverso: serão afetados negativamente aqueles que estão ao seu lado.

Por Leandro Grôppo

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